Como criar um cão de guarda

02/03/2012 15:47

 

Há raças que não possuem instinto de guarda, no entanto, podem assustar pelo tamanho (ex.: dogue alemão e são bernardo), aparência (ex.: boxer e husky siberiano) e até pela valentia e temperamento de alarme (fox paulistinha e muitos vira-latas). Não se pode esperar desses cães o comportamento de um cão de guarda, mas se o interessado desejar apenas um 'efeito moral', podem ser uma opção. Certamente, um pouco arriscada para assegurar a guarda da residência, mas uma saída para algumas situações, como medo de criar cães bravios, crianças muito pequenas em casa, etc..
 
Outro aspecto importante é conhecer eventuais problemas genéticos que possam afetar a raça. Os rottweilers e pastores alemães, por exemplo, podem ser acometidos de displasia coxofemural. Daí ser importante exigir do criador exames negativos dos pais do filhote para essa doença.
 
As raças de pelagem curta e pouco espessa não se adaptam bem em locais com invernos rigorosos. O doberman é um exemplo disso. Cães de pelagem longa, por outro lado, necessitam de cuidados, como escovação diária.
 
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O local
Apartamentos não são locais ideais para se criar cães de grande porte, principalmente os de guarda. Parece óbvio, mas alguns cometem esse erro. O cão preserva o seu território e vai considerar as áreas comuns do edifício como tal. Assim, compartilhar os elevadores com outros moradores e funcionários será um problema, pois o cão poderá atacar. Isso sem falar na falta de espaço que estressará o cão e o tornará facilmente irritável.
 
Quem dispõe de uma casa com uma área pequena para manter o animal deve pensar duas vezes. Os cães precisam de espaço e exercício. Também é um erro construir um canil e deixar o cão preso o dia todo. Para ter um cão de guarda, é preciso espaço suficiente para que ele possa se exercitar e tempo para levá-lo para passear.
 
A criação
Morder é uma atitude natural de todo filhote, na maioria das vezes para brincar. O cachorro de guarda, especialmente, deve ser desestimulado a fazer isso. Esse hábito se tornará um problema quando o cão for maior, por motivos óbvios. Quando o filhote começar a morder, diga 'NÃO' bem firme e, caso ele insista, diga 'NÃO' novamente, segurando-o pela pele atrás do pescoço, e deixe-o preso por alguns minutos. Não provoque o cachorro com panos, não o irrite para que ele morda. Ensine-o comandos básicos, pois obediência é a característica mais importante e desejável quando se possui um cão. Há vários livros que mostram como ensinar comandos ao filhote.
 
O cão JAMAIS pode rosnar para o dono. Isso significa que ele quer 'mandar no pedaço'. Em se tratando de uma raça de guarda, é possível imaginar o desastre que será se o cão achar que pode fazer o que quer. Na primeira rosnada, segure o focinho do cão ou contenha-o pela pele atrás do pescoço e diga NÃO! Essa é uma palavra que ele deve entender desde o primeiro dia que chegar em sua casa.
 
Manipule o cãozinho frequentemente, mexa nas orelhas, abra sua boca, segure suas patas e olhe entre os dedos, pegue sua vasilha de comida e escove seus pelos. Com isso, ele se acostumará com essas práticas e não estranhará quando for adulto.
 
O adestramento
 
Ele começa desde o primeiro dia, com a ajuda de bons livros de adestramento. Para aqueles que não são tão experientes, é possível contratar adestradores profissionais, quando o filhote tiver 6 meses. Mas nesse caso, a responsabilidade do dono na educação do cão não pode ser inteiramente passada para o treinador. O adestrador deve ensinar o cão a atender comandos e o dono a comandar. Somente um trabalho conjunto dará resultado. Ou então, o cão obedecerá apenas ao adestrador e todo o investimento será em vão.
 
Cães de guarda, a menos que sejam utilizados em empresas de segurança, pela polícia militar ou pessoas experientes, não devem receber outro adestramento além da obediência básica. Treinar o cão para o ataque (chamado por alguns treinadores de 'treinamento de defesa') é como entregar uma arma carregada a uma criança. Pessoas que não têm experiência com cães de guarda, não conseguirão controlar seus cães, caso eles ataquem.
 
Quanto à questão da morte de cães de guarda, provocada pela ingestão de venenos jogados por assaltantes, existe adestramento para isso, porém, apenas alguns cachorros conseguem resistir a um pedaço de carne lançado.
 
Socialização
Infelizmente, ainda existem pessoas que pensam que o bom cão de guarda é aquele que morde e ataca tudo que vê... E para conseguir um cão assim, prendem o animal em correntes ou canis, sem contato com pessoas de fora, pois assim 'ele fica bravo'. Animais criados dessa forma são aqueles que, quando escapam, atacam e matam pessoas nas ruas ou causam mutilações nas vítimas. Os acidentes falam por si só. É o resultado de cães não socializados, descontrolados e/ou estimulados a atacar.
 
O cão de guarda foi selecionado geneticamente para guardar seu território e seu dono, por isso, não é preciso 'deixá-lo bravo' com o isolamento. Naturalmente, o instinto de guarda aparecerá com 1 ou 2 anos de idade. É preciso passear com o cão e submetê-lo a vários estímulos externos (sons, pessoas que ele não conhece, bicicletas e carros passando, etc..) para que ele saiba discernir quando deve atacar, ou seja, reconhecer uma situação estranha a seu dia a dia. Uma pessoa pulando o muro, um estranho entrando na casa, uma atitude de violência contra o dono, são motivos para um ataque e não uma situação corriqueira.
 
Precauções contra acidentes
Durante os passeios, mantenha o cão sempre preso à guia. A focinheira deve ser usada por cachorros, grandes ou pequenos, que costumam avançar em pessoas ou outros animais nas ruas. Em algumas cidades, há exigência da lei para o uso desse acessório.
 
 Prenda SEMPRE seu cão de guarda quando for sair ou entrar com seu carro da garagem. 
 
 Coloque placas advertindo que a residência possui cão de guarda.
 
 Tenha certeza que os muros de sua casa sejam de altura suficiente para conter o cão.
 
O bom cão de guarda é um animal controlado, que sabe andar na rua e não ataca por qualquer motivo. O bom dono é aquele que tem a responsabilidade de criar um bom cão de guarda e mantê-lo sob seu controle com segurança. Aqueles que desejam ter uma 'fera' em casa, não devem comprar um cão de guarda.

 

 

 

Silvia C. Parisi
médica veterinária - (CRMV SP 5532)